Confirmado o Kairos com Pe. Fábio de Melo na Canção Nova, dia 24 de Maio! O tema deste Kairos será “VENCENDO OS MEDOS E CONQUISTANDO VITÓRIAS”.
Haverá também as presenças de Gabriel Chalita, Eros Biondini, Laércio Oliveira.
Fonte: Canção Nova
Confirmado o Kairos com Pe. Fábio de Melo na Canção Nova, dia 24 de Maio! O tema deste Kairos será “VENCENDO OS MEDOS E CONQUISTANDO VITÓRIAS”.
Haverá também as presenças de Gabriel Chalita, Eros Biondini, Laércio Oliveira.
Fonte: Canção Nova
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Fonte: Revista Século XXX |
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O primeiro colocado na lista foi o Padre Fábio de Melo, seguido pelo Padre Marcelo Rossi. Victor & Leo e seus dois CDs lançados em 2008 ocuparam a terceira e a quarta posições.
Entre os DVDs mais vendidos, novamente os músicos da igreja foram os campeões de vendas. Desta vez, foi Padre Marcelo Rossi quem encabeçou a lista.
"Em 2008, finalmente, tivemos uma conjugação de bons fatores para a indústria: o consumidor está, ou até o início da crise estava, com mais dinheiro no bolso; o CD original está muito barato - duvida? Vai lá ver quase tudo entre R$ 9,90 e R$ 14,90; e mais pontos de vendas abriram especialmente puxados pelo crescimento de livrarias", disse Leonardo Ganem, presidente da Som Livre.
A subida, em 2008, foi de 6,5% com a venda em vários formatos. O nicho que apresentou mais crescimento foi o da internet e telefonia móvel, com 79,1% de alta. A música movimentou R$ 359,9 milhões no ano passado, mas antes tinha apresentado três anos de queda consecutivos.
A área digital na música arrecadou R$ 43,5 milhões. Desse total, 22% foram representados por receitas advindas da Internet (R$ 9,68 milhões) e 78% vendas de música digital via telefonia móvel (R$ 33,82 milhões). Entre os CDs e DVDs, as bandas nacionais dominaram as vendas. Do total de títulos vendidos, 74,5% foram nacionais, 23,1% internacionais e 2,4% foram músicas clássicas.
Confira a lista de mais vendidos de 2008
CDs mais vendidos
1. Padre Fábio de Mello - Vida - Som Livre
2. Padre Marcelo Rossi - Paz Sim,Violência Não (Volume 1) - Sony Music
3. Victor & Leo - Borboletas - Sony Music
4. Victor & Leo - AoVivo Em Uberlândia - Sony Music
5. Ivete Sangalo - Multishow AoVivo No Maracanã - Universal Music
6. Padre Marcelo Rossi - Paz Sim,Violência Não (Volume 2) - Sony Music
7. Zezé Di Camargo & Luciano - Zezé Di Camargo & Luciano (2008) - Sony Music
8. Roberto Carlos - Roberto Carlos e CaetanoVeloso e A Música de Tom Jobim - SonyMusic/Universal Music
9. Ana Carolina - Multishow AoVivo "Dois Quartos" - Sony Music
10. Leonardo - Coração Bandido - Universal Music
11. Amy Winehouse - Back To Black - Universal Music
12. Ivete Sangalo - Perfil - Som Livre
13. Vários - A Favorita Sertanejo - Som Livre
14. Vários - High School Musical 3 (Regular) - TheWalt Disney Records
15. Rihanna - Good Girl Gone Bad - Universal Music
16. Diversos - O Melhor Do Pantanal - Universal Music
17. Michael Jackson - Thriller (25th Anniversary Edition) - Sony Music
18. Diversos - Sambas De Enredo 2009 - Universal Music
19. Daniel - Difícil Não Falar De Amor - Warner Music
20. Sandy & Junior - Acústico MTV - Universal Music
DVDs mais vendidos
1.Padre Marcelo - Rossi Paz Sim,Violência Não (Volume 1) - Sony Music
2. Ivete Sangalo - Multishow AoVivo No Maracanã - Universal Music
3. Ana Carolina - Multishow AoVivo "Dois Quartos" - Sony Music
4. Marisa Monte - Infinito Ao Meu Redor (Duplo) - EMI Music
5. Victor & Leo - AoVivo Em Uberlândia - Sony Music
6. Claudia Leitte - AoVivo Em Copacabana (Duplo) - Universal Music
7. Xuxa - Só Para Baixinhos 8 - Som Livre
8. Amy Winehouse - I ToldYou I Was Trouble - Universal Music
9. Roberto Carlos - Roberto Carlos e Caetano Veloso e A Música de Tom Jobim- SonyMusic/Universal Music
10. Alexandre Pires - Em Casa AoVivo - EMI Music
11. Nxzero - 62 Mil Horas Até Aqui - Universal Music
12. Nando Reis - Luau MTV - Nando Reis & Os Infernais - Universal Music
13. Sandy & Junior - Acústico - Universal Music
14. Roupa Nova - Acústico 2 - Universal Music
15. Andrea Bocelli - Vivere Live In Tuscany - Universal Music
16. Shakira - Oral Fixation Tour - Sony Music 17. Asa de Águia - 20 Anos (Duplo) - Som Livre
18. Maria Rita - Segundo VIP - Warner Music
19. Celine Dion - Live In LasVegas - A New Day... Sony Music
20. Xuxa - O Show AoVivo - Som Livre
por Padre Fábio de Melo
Vi meu irmão morrendo. Estava ao seu lado. Ele dirigia e contava histórias de um amanhã que não chegou. Cantamos sozinhos naquela noite longa. Nós dois. Eu tinha apenas 15 anos e, por milagre, sobrevivi. Vi seu soluço inconsciente, seu suspiro final. Tentei abraçá-lo, enquanto vozes se aproximavam. Meus braços não se moviam. A dor física era pequena diante da possibilidade da separação. Olhei-o com ternura. Separamo-nos. Meu irmão partia sem ter o direito de se despedir. Sem dizer o que gostaria que fizéssemos por ele. Apenas partiu. Minha mãe vestiu-se de preto por algum tempo. As sombras tomavam seu semblante, e gritos de dor eram entremeados por dias de silêncio. Meu pai era só silêncio. Em suas orações, lágrimas solitárias pediam a Deus que acolhesse o fruto do seu amor. A morte nunca tinha estado tão perto de mim. Acho que não pensava muito nela. Nos dias em que fiquei engessado, tentando recompor partes quebradas do meu corpo, quebrei-me em perguntas sem respostas. Por que o caminhoneiro dormira? Por que ele partira e eu ficara? Porque apenas o meu banco quebrara, jogando-me um pouco para trás, e o dele não, se ele era maior do que eu?
Falava dos apelidos debochados, do sonho frustrado da mãe de ter um filho homem, dos trambolhões da escada, galo na testa, pernas moles. Falava de uma dor doída de uma infância que não viu sorriso. A dor poderia tê-la paralisado. Mas o cenário dos sentimentos viu outra apresentação. Cora Coralina rezou a saga da mulher vitoriosa:
Ajuntei todas as pedras
que vieram sobre mim.
Levantei uma escada muito alta
e no alto subi.
Teci um tapete floreado
e no sonho me perdi.
Sua bênção,
Gabriel
Segunda carta
“O amor nos socorre
do esquecimento.
Retira o poder
definitivo da lápide,
porque sobrevive
na continuidade
do que plantamos.”
Obrigado por sua carta. O papel pousado sobre a mesa segreda motivos que não cabem nos conceitos das palavras, mas extrapolam a grafia porque pertencem a algo a que não sabemos
dar nome. Sua carta foi uma visita agradável que recebi. Chegou quando não a esperava e quebrou a sequência do meu cotidiano. Floresceu diante de meus olhos, assim como o ipê desafia as regras do inverno e se reveste de flores.
Meu caro amigo, diante de suas confissões, concluo mais uma vez que a dor é um território santo.
Há uma passagem na Sagrada Escritura que considero de beleza insondável. Moisés estava diante de uma sarça que ardia sem se consumir, quando ouviu o imperativo de Deus: “Retira as
sandálias dos teus pés, porque este solo que pisas é santo!”.
Confesso que este imperativo musicou meu coração durante a leitura de sua carta. A trilha sonora fez com que as palavras lidas se misturassem às palavras recordadas. É a partir desta simbiose que lhe respondo.
Confesso que estou temeroso. Não gosto de respostas apressadas. Tenho medo de dizer, sem dizer, afinal, que o que há de mais precioso nesta vida costuma ser vivido e experimentado a
partir do silêncio frutuoso.
Carlos Drummond de Andrade, o poeta mineiro que você admira profundamente, recomendava que, antes de escrever os poemas, é preciso conviver com eles.
Ele insinuava que antes do nascer da palavra há sempre um sabor de silêncio que precisa ser sorvido.
Creio que o poeta tinha razão. A boa palavra se alimenta de silêncios e pausas. Um grande poema costuma nascer de profundas e fecundas experiências de contemplação da realidade. O poeta, ao enxergar o silêncio do ainda não dito, diante dele se prostra e o experimenta, e somente depois o reveste de palavras.
Suas perguntas são religiosas. Elas buscam unir as pontas da corda que amarra a vida e a sustenta de sentido.
Costumo dizer que a dor é uma quebra da corda, porque nos retira da segurança. Há acontecimentos que nos fazem mergulhar no absurdo da existência. O absurdo é a ausência de sentido. É o momento da vida em que a alma se sente penetrada e transpassada por uma dor lancinante. É no momento do desespero que experimentamos a nossa humanidade em suas dimensões mais venturosas. Os exemplos já foram postos por você. Cora Coralina só foi a mulher que foi porque não fugiu dos absurdos do mundo. Deles fez poesia qualificada. A alma transliterada nos faz mergulhar nos recônditos de uma mulher que não viveu por acaso. A dor transmudada, redimida, purificada nos calvários da escrita que o ofício poético lhe reservou na velhice tem o poder de nos devolver a apetência do sonho. Cora Coralina nos encoraja a enxergar as belezas que se escondem nas tristezas.
Há um poema belíssimo em que ela narra a demolição do sobrado que marcou os áureos tempos de sua mocidade. A descrição minuciosa do acontecimento nos leva a experimentar os mesmos sentimentos que ela. Eu, que nunca havia pisado as soleiras do nobre sobrado, chorei com ela a amovibilidade daquelas paredes tão frágeis.
Gabriel, vez ou outra nós também presenciamos a demolição de nossos sobrados interiores. Vez ou outra precisamos encarar os monturos que restaram de nossas realidades. É o tempo, e sua bbatuta implacável a reger os acontecimentos. É o inevitável e seus dentes afiados.
Meu amigo, ao narrar a morte de seu irmão, pude reconhecer em suas palavras o ruir de uma presença humana. Sobrado suntuoso, acolhedor, ocupando a centralidade de sua cidade interna. Sseu irmão cumpria o ofício de ser parede protetora, telhado que o resguardava de seus medos, varanda que lhe permitia contemplar o bom da vida, naquilo que chamamos de fraternidade.
Um dia a fatalidade o resgatou. O sobrado foi demolido, assim como fora o sobrado de Cora.
Da mesma forma, seu pai, o homem que projetou a arquitetura de seu caráter e que lhe ensinou tudo o que você sabe sobre a bondade, também foi embora de maneira definitiva. Grandes pperdas, grandes pedras. Grandes aprendizados, grandes flores.
Gabriel, tenho contemplado de perto os calvários da humanidade. Mulheres com os filhos mortos nos braços, gritando pelo sentido, chorando a dor que não tem nome, a inversão brutal das regras da vida, o absurdo de ver partir, antes do tempo, a cria de suas carnes. Mulheres semelhantes àquela que entrou em sua vida através de uma carta e que reivindicava o direito de compreender o mistério da morte de seus inocentes.
Mais uma vez eu me recordo de Drummond e de seu sábio conselho: “Convive com os teus poemas antes de escrevê-los”.
Meu caro amigo, há acontecimentos que não combinam com explicações. E, mesmo que explicações existissem, não seriam capazes de aplacar a dor que provocaram. Nem sempre os claros e objetivos postulados da razão cartesiana conseguem resolver as questões humanas. Saber o porquê da morte não sana nem preenche a ausência sentida.
Como homem da religião, tenho constatado que o discurso religioso, quando mal aplicado, pode ser tão nocivo quanto o discurso desumano dos assassinos.
Escuto absurdos sobre Deus, quando pessoas movidas por boas intenções resolvem explicar as fatalidades do mundo. Frases simplórias e descomprometidas com a verdade não resolvem; ao contrário, agravam ainda mais o sofrimento, porque geram orfandade, descrença e abandono.
Justificam as tragédias humanas como “vontade divina”, retirando assim a responsabilidade humana dos acontecimentos, fruto das escolhas que fazemos. Respondem a tudo e a todos como
se o desvelamento do mistério pudesse resolver as questões.
Eu ainda prefiro o abraço solidário, o silêncio que nos permite proximidade e o comprometimento com a dor que me toca. Ainda prefiro sentir o vento frio do calvário a procurar o aquecimento mmórbido do sepulcro que nos cala antes da hora.
Gosto de compreender as religiões como tentativas humanas de refazer a corda. Tenho medo quando o discurso religioso é utilizado para responder de forma mágica a questões que são humanas, sangradas no asfalto das cidades, em lugares que nossos olhos não alcançam.
Por isso não tenho receio de afirmar que o específico das religiões não consiste em responder às perguntas, mas em nos ensinar a conviver com elas. Na tentativa de resolver os conflitos que nos afligem, corremos o risco de atentar contra a sacralidade dos fatos.
Dessa forma, deixamos de plantar as flores e insistimos em chorar sobre as pedras. Diante do sobrado demolido, Cora Coralina resolveu escrever o poema, pois sabia que as palavras poderiam resguardar o significado de tudo o que as pedras insistiam em sepultar.
Gosto de compreender a ressurreição de Jesus da mesma forma. Diante da ausência sentida, a saudade fez o apóstolo intuir e proclamar: “Ele está no meio de nós!”. O grito nasce do reconhecimento da transformação acontecida. Eles não eram mais os mesmos. O sobrado crístico já estava erigido na alma de cada um. João, o homem que era chamado “filho do trovão”, o homem de temperamento difícil, revestia- se de docilidade. Pedro, o homem que mal sabia falar, o homem que foi frágil até o momento da morte do melhor amigo, estava mergulhado numa coragem invejável. Eles se olhavam e percebiam que Ele não havia ido embora, mas apenas modificara a forma de ficar.
Isso retira a necessidade que temos da materialidade da ressurreição. Não importa que haja um corpo encontrado ou um corpo desaparecido. O que a ressurreição nos sugere é muito mais que um corpo material. O mais importante, e o que verdadeiramente pode mover o cristianismo no tempo, não está na prova material da ressurreição, mesmo porque não a temos. O que possuímos, e isso ninguém pode contestar, é o fato de que os discípulos nunca mais foram os mesmos depois da vida, morte e ressurreição de Jesus. A declaração cristã “Ele está no meio de nós!” nos assegura a continuidade do plantio das flores. Onde existir um ser humano comprometido com as palavras e a proposta de Jesus, lá Ele estará presente. Isso não é lindo, meu amigo?
Teilhard de Chardin, teólogo jesuíta, chamava isso de “cristificação do universo”. Esta mística nos permite uma aproximação ainda mais interessante da eucaristia, acontecimento ritual que nós, católicos, chamamos de “presença real de Cristo”. O que é a presença real? A matéria consagrada? O pão e o vinho somente? Não. Juntamente com as duas substâncias está o bonito e sugestivo significado da ausência. A comunidade que celebra, enquanto celebra, prepara a chegada do que vai voltar. A volta de Jesus não é apenas um acontecimento escatológico, reservado ao final dos tempos, mas induz a comunidade a um comprometimento histórico com as dores do mundo.
Jürgen Moltmann, grande teólogo alemão contemporâneo, aprofunda de maneira muito preciosa o conceito de esperança. Segundo ele, a esperança cristã é sempre operante, porque nos mobiliza a atualizar no tempo a presença do esperado.
Com isso, podemos saborear a espera. Ao socorrer os necessitados, podemos antecipar a volta de Jesus. Ao consolar o coração de uma mulher que perdeu um filho, e com ela sendo solidários, podemos dar início ao processo de sua cura.
Isso também é celebrar o mistério eucarístico. É deitar a toalha branca sobre o altar do coração humano, reconhecendo nele a dor que precisa ser redimida, e elevá-lo, em prece, aos céus. É a ausência humana sendo curada através da presença comprometida, movida por uma esperança operante, que encontra motivos para continuar na celebração sacramental que nasceu da ausência sentida.
O motivo da última ceia foi a preparação da ausência. Foi a oportunidade que Jesus teve de sacramentar em seus discípulos a coragem da continuidade. Nada mais bonito que preparar a ausência com um jantar entre amigos. O prato principal não era material. Do que eles precisavam era aprender a mística do alimento. Nós nos transformamos no que comemos. O que Jesus propunha não era um ritual de antropofagia. Comer e beber juntos significa estarmos comprometidos. O banquete não é lugar para saciar somente a fome do corpo, mas também a fome da alma. Ao estar com os que amo para me alimentar, de alguma forma eu os trago para dentro de mim.
Ao interpretar a transcendência do amor interpessoal, o filósofo Gabriel Marcel intuiu que amar consiste em olhar o amado nos olhos e dizer: “Tu não morrerás jamais!”. Ele pode ter aprendido isso ao contemplar a última ceia. Cora Coralina disse a mesma coisa, mas com palavras diferentes, que você citou em sua carta: “Não morre aquele que deixou na terra a melodia de seu cântico, na música de seus versos”.
O amor nos socorre do esquecimento. Retira o poder definitivo da lápide, porque sobrevive na continuidade do que plantamos. Por isso a ausência é lugar de encontro. Basta exercer a força da visão poética, a via que costuma salvar o mundo de seus desesperos e ruínas.
Uma bonita expressão atribuída a São João da Cruz, o grande místico cristão, nos diz que “o que podemos conhecer de Deus são as pegadas de sua ausência”, uma frase que desconcerta os religiosos ávidos por sinais concretos. O que temos de Deus são vestígios. Por isso é tão importante não perder o desejo de procurar. Encontrar respostas é satisfação temporária. O bom mesmo é a investigação que nos mobiliza. As teologias nascem dessas ausências. É a partir delas que as teologias postulam as suas verdades, porque a ausência é uma categoria cheia de sugestões.
Volto à eucaristia. O que celebramos e o que vemos é muito pouco perto de tudo o que verdadeiramente significa o rito. Não podemos materializar a eucaristia, retirando-a da totalidade de sua abrangência. Digo isso, meu amigo, porque reconheço suas dores como eucarísticas. Assim como foi também a dor de Hannah Arendt, de Cora Coralina e de tantos homens e mulheres que semearam o mundo de flores e sentido.
Da mesma forma que não posso reduzir a eucaristia a um detalhe de sua totalidade, também não quero reduzir sua carta a uma simples resposta.
Permita-me dizer que suas perguntas, nascidas de suas ausências, saudades e indignações, em vez de me provocarem o desejo de lhe responder, fomentaram em mim muito mais silêncios que palavras. O pouco que escrevo é apenas um modo que tenho de dividir o que creio sobre tantas coisas, e que por ventura entra no contexto de suas falas. Talvez eu não tenha respondido absolutamente nada. Não importa. O mais bonito de tudo isso é saber que suas palavras me fizeram pensar nos sobrados que já reconstruí dentro de mim. Ausências às quais aprendi a atribuir sentido. Sofrimentos que antes eram capazes de me sepultar e que agora me sugerem experiência de plantio de flores.
O mais importante é que no sacramental desta carta pude recebê-lo em minha casa e a seu lado deitar a toalha branca sobre o altar dos nossos significados, para juntos repetirmos no tempo o que nele não cabe. A matéria que celebramos? Ainda não sei. Vou seguir o conselho do poeta. Vou conviver com ela e saborear o seu poder de silêncio, antes de encontrar as palavras que possam dizê-la ao mundo.
Obrigado pela eucaristia que sua carta me permitiu celebrar. Confesso que, ao terminar a leitura, tive o ímpeto de repetir uma expressão ritual, aquela que assegura a sacralidade da palavra proferida: “Palavra da Salvação!”. No íntimo de meu coração, rezei dizendo: “Glória a Vós, Senhor!”.
Permaneçamos unidos. Nesta mística, neste tempo, neste mesmo sobrado que os sábios chamam de amizade e que nos ajuda a enfrentar os medos que sentimos.
Fonte: Livraria Cultura
Um dos livros mais aguardados do ano, traz reflexões sobre temas contemporâneos de grande interesse. O medo da morte, da solidão, do fracasso, da inveja, do envelhecimento, das paixões, da falta de sentido da vida. No formato de cartas entre dois grandes amigos, tais temas são tratados com sensibilidade pelos jovens autores mais celebrados do momento, duas lideranças incontestáveis das novas gerações: Gabriel Chalita e Padre Fábio de Melo. O livro resgata os valores do humanismo ao mesmo tempo que celebra a amizade de duas personalidades apaixonadas por filosofia, literatura e poesia.
Como encarar a perda de uma pessoa querida? Como não se abalar com a solidão, a inveja, a falta de compaixão e a violência? O que fazer com o duro convívio entre razão e paixão? O que fazer com amor, dor, esquecimento e tantos outros sentimentos que insistem em nos perseguir? Perguntas difíceis, não?
Estes são alguns dos questionamentos abordados no livro “Cartas entre amigos – sobre medos contemporâneos”, de Gabriel Chalita e Fábio de Melo, que será lançado em maio pela Ediouro. As histórias contadas trazem à tona angústias, medos, ódio, inveja e solidão, sentimentos que qualquer um de nós carrega na alma e no coração.
No livro, Chalita e o Padre Fábio de Melo lançam mão de um dos meios de comunicação mais antigos da humanidade: a troca de cartas (sim, de cartas!), tão poeticamente presente no passado e hoje esquecida pelas pessoas.
Não perca a chance refletir sobre seus próprios sentimentos.
Fonte: Blog do leitor voraz