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Blog criado pela comunidade do orkut: 'Pe. Fábio de Melo: Jesus na minha vida!' com o intuito de elevar este meio de comunicação a serviço da obra de Deus.

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quarta-feira, 29 de abril de 2009

Kairós com o padre Fábio de Melo

Confirmado o Kairos com Pe. Fábio de Melo na Canção Nova, dia 24 de Maio! O tema deste Kairos será “VENCENDO OS MEDOS E CONQUISTANDO VITÓRIAS”.

Haverá também as presenças de Gabriel Chalita, Eros Biondini, Laércio Oliveira.


Fonte: Canção Nova


domingo, 26 de abril de 2009

Ressurreição, tempo de misericórdia.

24/04/2009


O tempo é de ressurreição. Já não podemos mais ouvir os gritos do calvário, o movimento curioso de quem desejava a tragédia , a morte pública e cruel. O que temos é o jardim vistoso sugerindo primaveras. A vida revestida de cores mansas como se uma chuva miúda devolvesse aos poucos o frescor que combina com as manhãs.

O que me instiga em tudo isso é a falta de provas para o fato. O sepulcro estava aberto, vazio. Mas isso não era o suficiente para que a ressurreição fosse proclamada. Alguém poderia ter roubado o corpo. Não faltariam incrédulos para essa suspeita.

A certeza da ressurreição não consiste em provas materiais para o fato. A imposição dessa verdade não passa pela materialidade do mundo, nem tampouco pode ser explicada através das claras regras que foram postuladas por nossa razão cartesiana.

Estamos falando de algo maior, superior. O que despertou o grito da ressureição foi o encontro dos olhares de quem havia estado com Ele. Foi o momento em que João reconheceu em Pedro a presença do Mestre. Resquícios esquecidos na alma, doação existencial que o configurava de forma renovada, como se tivesse nascido de novo.

"Ele está no meio de nós!" - A voz proclama. Gita o que ainda não compreende. Grita o que intui em mistério, o que descobre aos poucos. A alma reconhece na carne o milagre da continuidade. Os desdobramentos da Eucaristia celebrada dias antes tornam-se evidentes. João vê na carne de Pedro a carne de Jesus. É o mesmo sangue, é a comunhão estabelecida. O sangue jorrado na cruz encontrou novas veias e por elas corre.

É o olhar epifânico ardendo como a sarça ardeu diante dos olhos de Moisés. Sarça humana, pupilas dilatas de alegria, incapacitadas de esconderem os olhos que estavam por trás dos olhos de Pedro. Olhos que deixaram de brilhar no calvário, mas que agora são reacendidos nos olhos do amigo que ficou. O apóstolo é a continuidade do Mestre. Simbiose que faz o agir ser o mesmo, como se uma costura atasse a vida de Pedro à vida de Cristo.

É o ser emprestado em sacramento, força que o altar atualiza e que a alma recebe prostrada, generosa. A sobrevivência do Cristo passa pela alma que o aceita. É preciso acolher o dom de ser ressurreto. Passa pela nossa carne esta mística que nunca terá fim. Não aceitá-la é o mesmo que viver a privação da felicidade. Não é possível ser feliz fora desta dinâmica. As religiões nos ensinam. É preciso aprender. O altar estendido é o banquete do encontro. O Cristo sentado à mesa nos ensina de forma simples e duradoura que é preciso crescer na ressurreição. Ele nos dá de comer. "Isto é o meu corpo". Ele nos dá de beber. "Isto é o meu sangue".

É Nele que nos transformamos. Quando por Ele nos decidimos,, Dele nos tornamos continuidade. Cada um ao seu modo vive o seu processo. É estrada humana também. Jesus nos ensinou a humanidade antes de nos propor o céu. Por isso o aperfeiçoamento de tudo o que é humano é exercício de santidade. O pecado nos mata, mas a ressurreição nos socorre.

Viver e morrer são dinâmicas inevitáveis. Cada um sabe o tanto que morre. Cada um sabe o tanto que vive. As escolhas estão por toda parte.

Mas o Cristo está diante de nós. Em suas mãos não há outra coisa senão a sua Misericórdia. O motivo de sua morte é o motivo de nossa vida. Ele morreu porque quis nos ensinar que a justiça divina compreende também a sua capacidade de amar. Ele nos deu o direito de sermos íntimos do Pai. Ensinou caminhos simples, diretos, sem rodeios.

Ensinou que podemos ser santos, mesmo sendo proprietários de tantos defeitos. Ensinou que há sempre uma esperança escondida dentro de nós, e que procurar por ela é um jeito bonito que temos de colocar os nossos passos nas marcas de seus pés.

Neste tempo de Ressurreição queiramos a sua misericórdia.

Eu quero. Queira também. Eternamente.

Padre Fábio de Melo

Troféu Louvemos ao Senhor

Troféu Louvemos ao Senhor

O prêmio Nacional da Música Católica – Troféu Louvemos o Senhor, surgiu com a finalidade de premiar aqueles que estão envolvidos com a música na igreja católica. Cantores que estão na estrada e tem se despontado na mídia, oferecendo música que evangeliza com qualidade.

A finalidade é mostrar a qualidade do músico católico, a música e a cultura de uma igreja vibrante que transforma e evangeliza com canções que falam da boa nova de nosso senhor e salvador Jesus Cristo.



O padre Fábio de Melo está concorrendo nas categorias:
  • Música do Ano (Humano demais)
  • Cantor do Ano
  • Revelação Masculina
  • Destaque 2008 (CD Vida)
  • Melhor compositor
As categorias 'Música do ano' e 'Cantor do Ano', estão com votação aberta ao público.
Então gente, contamos com vocês para que o padre Fábio ganhe este merecido prêmio, como reconhecimento do seu trabalho.

Para votar é muito simples!


Você pode votar 1 vez por dia...
Vamos lá!
Votem muitoooooo, pois ele se encontra em 2º lugar nas duas categorias!


=*

sexta-feira, 17 de abril de 2009

O Guardador de almas



Por Ana Flavia Barreto

Padre Fabio chega ao palco em passos leves e a platéia lhe sorri emoções. Os primeiros acordes soam “Tudo é do Pai”, com muita graça e um brilho insistente dos músicos.


As músicas, que são em maioria composições do Padre, mexem com o interior das pessoas e as faz sentir-se abraçadas. Ele traduz sentimentos e o público, em resposta, chove alegrias. Então, o próximo passo é aquietar o coração para ouvi-lo dividir saudades, compartilhar histórias sobre a sua família e amigos.


São cerca de três mil pessoas ocupando o Empório Brasil, em Cianorte (PR), que deslizam em uníssono nas melodias entoadas pela voz aveludada de um trovador moderno, arquiteto da alma, um artista que põe doçura em cada coisa que faz.


Em meio a tanta gente, consegue capturar os olhares que estão em busca de algo que os toque. Considera que seu público é de uma grande riqueza: “Nós temos hoje aqui dentro evangélicos, céticos, católicos, todos em torno da bondade dos que querem fazer uma experiência positiva de Deus”. Cada um ali presente tem sua razão, mas é o encontro com Deus que está estabelecido. “Já que você me reconheceu então conheça meu Deus, é o que venho apresentar”, ele afirma.


Uma curiosidade: nesse show compareceram pessoas até do Paraguai, com direito a entregar uma bandeira do país a ele no palco, que ele exibiu durante uma música. Todos aplaudiram e ele “gastou” seu espanhol em um sorridente “muchas gracias”.


O Padre é enfático e se chateia com publicações que têm ofendido sua platéia: “Eu fico muito triste, sobretudo quando desrespeita o público, quando uma reportagem afirma que as mulheres que vão aos meus shows são um bando de histéricas, isso não é verdade. É gente honesta, com fé, em processo de crescimento. Gente que realmente faz uma experiência de Deus, no qual fazemos parte. Falar mal de mim é até natural, mas falar do público tem me deixado aborrecido”.


Natural de Formiga, MG, Fabio de Melo entrou no seminário aos 16 anos, é graduado em Teologia na PUC-Rio, em Filosofia pela Fundação Educacional de Brusque, SC, pós-graduado em Educação na Universidade Salgado de Oliveira, Rio de Janeiro e mestre em Teologia sistemática pelo Instituto Santo Inácio de Loyola, Belo Horizonte, MG.


Escreveu cinco livros - prosa poética a escapar de seus dedos. Tem 11 CDs com canções religiosas e não religiosas, e o DVD Eu e o Tempo, gravado em janeiro deste ano no Canecão, no Rio de Janeiro.


Seu mais recente CD - VIDA - (disco de platina triplo, cerca de 600 mil cópias vendidas), se deu pela parceria LGK/ Sony Music, que contribuiu para novas possibilidades em seu trabalho evangelístico. “Primeiro detalhe que modificou foi a forma de divulgar. Até então eu estava em uma mídia católica que não ousava muito na divulgação como esta. E depois a qualificação mesmo, o profissionalismo que a gente pode assumir por causa da infra-estrutura que o próprio evento foi tendo. A partir desse momento, tivemos oportunidades de fazer essa evangelização acontecer com um pouco mais de estrutura. No mais, continuo do mesmo jeito, vivendo da mesma forma, com uma responsabilidade a mais: quanto mais a gente fica público maior é a necessidade de reconhecer o que torna público. Fiquei conhecido porque sou padre e faço um trabalho de evangelização que hoje é diferente”, observa.


Já recebeu críticas positivas e respeitosas, mas ainda é vítima de polêmicas de uma mídia que não deixa de inventar opinião e ainda tanto questiona o fato de ele se apresentar sem batina em seus shows. “Não sou um aventureiro. Não comecei esse trabalho com a música ano passado”, adverte.


Ele tem alma leve e olhos de menino, que aprendeu a encontrar graça no simples ato de ir comprar pão, ver poesia onde ninguém imaginaria poder existir e transformar lugares: novos olhos para a mesma paisagem. “Tudo depende da conversão do olhar. Eu enxergo o mesmo muro todos os dias, mas há momentos em que eu vejo a poesia que há nele. Eu acho que essa conversão é importante. É trabalhar a sensibilidade”, conta.


Ele alerta para novas percepções, nos deixa “significando”, e é bonito aprender os novos sabores da vida, as novas maneiras de sorrir e abraçar, a melodia quando o beija-flor beija e uma abelha que pousa na flor. Uma nova religião, que a todo tempo floresce e renova-se em nós. “O que é o processo religioso? É o despertar da sensibilidade para olhar a vida de todo dia. Não tem nada de extraordinário acontecendo em nossa vida, mas tudo isso é sinal de Deus. E é bonito demais você perceber que, na descoberta da humanidade descobre-se também o que é divino e que não existe uma separação para isso”, revela.


Padre Fabio tem “estrela na testa” e soube fazer dela um Sol: iluminado por Deus, contribui para aquecer e confortar com sabedoria na hora da dor; e fazer raiar aquele coração que carregava vazio, silêncio e sombra. Lindo é ele falar de amor! Da maior lição que Jesus deixou e que devemos praticá-la em todos os momentos de nossas vidas. E quando fica difícil amar, o Padre Fabio carrega assim consigo sutileza, carisma e paciência pra explicar, e partilha um pouco de suas reflexões também em seu site (www.fabiodemelo.com.br). Lá ele escreve bonito dentro da gente. Uma obra não para lhe dizer parabéns, mas sim: muito obrigada!


Tem seus livros na lista dos mais vendidos do país. Letras que alcançam as estrelas e por fim nos ilumina - no sentido mais luz da palavra. E para completar, vem com sua sábia Direção Espiritual, o programa semanal ao vivo que vai ao ar pela Canção Nova, em que cada vez mais a Palavra de Deus nos edifica, e seus conselhos vêm acrescentados de doses terapêuticas de virtude, beleza, poesia, com palavra bonita e pronúncia bem feita. Graças a Deus.




Ana Flavia Barreto é estudante de arquitetura e urbanismo da Universidade Estadual de Londrina e colaborou com o artigo para a Revista Século XXX








Padres e sertanejos dominam lista de mais vendidos


Os estilos gospel e sertanejo dominaram a lista de CDs mais vendidos do ano de 2008, organizada pela ABPD. Das primeiras dez posições, sete foram ocupadas por padres ou por cantores e duplas do estilo característico do interior.

» Ouça Padre Fábio de Mello no Sonora
» Ouça Padre Marcelo Rossi no Sonora
» Ouça Victor & Leo no Sonora

O primeiro colocado na lista foi o Padre Fábio de Melo, seguido pelo Padre Marcelo Rossi. Victor & Leo e seus dois CDs lançados em 2008 ocuparam a terceira e a quarta posições.

Entre os DVDs mais vendidos, novamente os músicos da igreja foram os campeões de vendas. Desta vez, foi Padre Marcelo Rossi quem encabeçou a lista.

"Em 2008, finalmente, tivemos uma conjugação de bons fatores para a indústria: o consumidor está, ou até o início da crise estava, com mais dinheiro no bolso; o CD original está muito barato - duvida? Vai lá ver quase tudo entre R$ 9,90 e R$ 14,90; e mais pontos de vendas abriram especialmente puxados pelo crescimento de livrarias", disse Leonardo Ganem, presidente da Som Livre.

A subida, em 2008, foi de 6,5% com a venda em vários formatos. O nicho que apresentou mais crescimento foi o da internet e telefonia móvel, com 79,1% de alta. A música movimentou R$ 359,9 milhões no ano passado, mas antes tinha apresentado três anos de queda consecutivos.

A área digital na música arrecadou R$ 43,5 milhões. Desse total, 22% foram representados por receitas advindas da Internet (R$ 9,68 milhões) e 78% vendas de música digital via telefonia móvel (R$ 33,82 milhões). Entre os CDs e DVDs, as bandas nacionais dominaram as vendas. Do total de títulos vendidos, 74,5% foram nacionais, 23,1% internacionais e 2,4% foram músicas clássicas.

Confira a lista de mais vendidos de 2008
CDs mais vendidos
1. Padre Fábio de Mello - Vida - Som Livre
2. Padre Marcelo Rossi - Paz Sim,Violência Não (Volume 1) - Sony Music
3. Victor & Leo - Borboletas - Sony Music
4. Victor & Leo - AoVivo Em Uberlândia - Sony Music
5. Ivete Sangalo - Multishow AoVivo No Maracanã - Universal Music
6. Padre Marcelo Rossi - Paz Sim,Violência Não (Volume 2) - Sony Music
7. Zezé Di Camargo & Luciano - Zezé Di Camargo & Luciano (2008) - Sony Music
8. Roberto Carlos - Roberto Carlos e CaetanoVeloso e A Música de Tom Jobim - SonyMusic/Universal Music
9. Ana Carolina - Multishow AoVivo "Dois Quartos" - Sony Music
10. Leonardo - Coração Bandido - Universal Music
11. Amy Winehouse - Back To Black - Universal Music
12. Ivete Sangalo - Perfil - Som Livre
13. Vários - A Favorita Sertanejo - Som Livre
14. Vários - High School Musical 3 (Regular) - TheWalt Disney Records
15. Rihanna - Good Girl Gone Bad - Universal Music
16. Diversos - O Melhor Do Pantanal - Universal Music
17. Michael Jackson - Thriller (25th Anniversary Edition) - Sony Music
18. Diversos - Sambas De Enredo 2009 - Universal Music
19. Daniel - Difícil Não Falar De Amor - Warner Music
20. Sandy & Junior - Acústico MTV - Universal Music

DVDs mais vendidos
1.Padre Marcelo - Rossi Paz Sim,Violência Não (Volume 1) - Sony Music
2. Ivete Sangalo - Multishow AoVivo No Maracanã - Universal Music
3. Ana Carolina - Multishow AoVivo "Dois Quartos" - Sony Music
4. Marisa Monte - Infinito Ao Meu Redor (Duplo) - EMI Music
5. Victor & Leo - AoVivo Em Uberlândia - Sony Music
6. Claudia Leitte - AoVivo Em Copacabana (Duplo) - Universal Music
7. Xuxa - Só Para Baixinhos 8 - Som Livre
8. Amy Winehouse - I ToldYou I Was Trouble - Universal Music
9. Roberto Carlos - Roberto Carlos e Caetano Veloso e A Música de Tom Jobim- SonyMusic/Universal Music
10. Alexandre Pires - Em Casa AoVivo - EMI Music
11. Nxzero - 62 Mil Horas Até Aqui - Universal Music
12. Nando Reis - Luau MTV - Nando Reis & Os Infernais - Universal Music
13. Sandy & Junior - Acústico - Universal Music
14. Roupa Nova - Acústico 2 - Universal Music
15. Andrea Bocelli - Vivere Live In Tuscany - Universal Music
16. Shakira - Oral Fixation Tour - Sony Music 17. Asa de Águia - 20 Anos (Duplo) - Som Livre
18. Maria Rita - Segundo VIP - Warner Music
19. Celine Dion - Live In LasVegas - A New Day... Sony Music
20. Xuxa - O Show AoVivo - Som Livre

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Making Of do DVD 'Eu e o tempo' do Pe Fábio de Melo

sábado, 11 de abril de 2009


"Tenho para mim que os sofrimentos da vida presente não tem comparação alguma com a glória futura que se manifestará em nós." (Romanos, 8 18)

"Aquilo que você está vivendo, o peso que você está carregando, não é nada comparado a alegria que te espera..."

Em março quando meu pai deu o seu último suspiro, eu estava lá com ele, mas por covardia não tive coragem de segurar na mão dele, por medo de ver agonia que ele estava vivendo.

Nove de abril, terra boa no Paraná, recebi a notícia de que minha irmã estava morta, e o dia 15 de dezembro o dia em que eu comemorava o meu aniversário de ordenação, a dor mais recente, quando o meu amigo Robinho (Cantores de Deus) não conseguiu mais, o câncer foi maior que ele. E alguns dias depois uma outra experiência que eu vivi, mas que não quero falar aqui, mas em uma outra ocasião, meu amigo padre Léo.

Mas vou me prender nessas três...

Quando alguém morre, levamos certo tempo, sem entender, sem acreditar. Leva tempo para acontecer dentro de nós, a gente leva um tempo dizendo ‘eu não acredito’. Você fica o tempo todo ruminando aquele acontecimento, porque a vida leva tempo para acontecer dentro de nós.

Nós levamos tempo para organizar o luto, levamos tempo para descobrir que aquela pessoa não faz mais parte da nossa vida mesmo. E a gente começar a recolher no espaço que era dele e nosso também, as coisas que ficaram.

Você abre uma gaveta, e coisas pequenas, bobas, um bilhetinho, que antes não teria valor nenhum, mas porque ele foi embora, foi revestido por uma sacralidade que dinheiro no mundo que pague aquele bilhete. Ai se alguém fizer uma limpeza nas nossas gavetas e começar jogar fora o que pra nós é sacramental, porque é um jeito que a gente tem de fazer o outro sobreviver.

Eu comecei a entender e ajuntar com as várias oportunidades que Deus me deu de viver a experiência do sábado santo. Por isso eu quis contar essas três histórias para vocês e proclamar essa palavra de São Paulo aos Romanos que diz:

“Porque para mim, tenho por certo, que os sofrimentos do tempo presente não são para comparar com a glória por vir a ser revelada em nós.”

Descubra o que hoje lhe mata, descubra o que hoje lhe faz sofrer e você de alguma maneira poderá intuir e descobrir aquilo que te fará vencedor amanhã.

Há duas formas de vivermos o processo da morte, ou o processo do sofrimento: ou nós nos entregamos a ele, ou nós experimentamos a ressurreição, que pode ser exalada aos poucos.

O céu começa nas pedras, por isso, o Sábado Santo é ainda tempo de silêncio e contemplação, porque o nosso Mestre ainda está morto.
Os discípulos viveram ontem, vamos voltar no tempo. Você já tem a certeza da ressurreição, os discípulos não tinham.

No dia anterior os seus discípulos viram o seu Mestre ser morto. Eles que tinham deixado tudo para segui-Lo, e de repente, Aquele em quem eles colocaram sua esperança tinha morrido, por isso eles voltam a suas vidas antigas, se reuniram para decidir o que fazer de suas vidas, mas o que os evangelhos não contam é que ao olharem uns para os outros, sentirão o perfume de Cristo no ar.

É impossível passar pela experiência com Jesus e sermos iguais. Os discípulos se olharam e diziam: ‘...o perfume de Cristo está no meio de nós’, e não é possível que d’Aquele que fez tanto por nós, não tenha ficado nada.

Os discípulos só reconhecem Jesus quando eles reconhecem quem eles são. Aquele que tem o poder de te amar de verdade tem o poder de te fazer lembrar quem você é.

Esta promessa de São Paulo está enraizada na experiência que eles tiveram com Jesus na dor, no sofrimento.

Descubra na sua história o que você viveu, onde você não se deixou viver a experiência do casulo. Assim como as árvores, que tem que condensar todas as suas seivas para quando chegar a primavera possam ter seiva para que as folhas sejam verdes.

Quantas vezes rezamos pela cura daqueles que amamos, assim como rezamos pela cura do padre Léo, quanta falta ele faz para nós! E para você que teve a sua vida transformada por uma palavra do padre Léo... Então ele morreu? Não! Porque quando você vive essa palavra proclama por ele, quando você faz brilhar a experiência daquilo que você aprendeu com ele através da palavra, ele se torna vivo dentro de você.

Deus não está aí para realizar o que você quer mas para o que você precisa!

O que você precisa que Deus faça na sua vida? A gente não sabe responder, porque estamos ocupados demais em dizer o que queremos.

Não nasce cristão da noite para o dia, leva tempo, e filho do céu nasce ‘parturiado’, não tem cesariana, não nasce de maneira fácil. Filho do céu nasce da pedra, do túmulo.

Manhã de sábado é manhã de preparo, não sepulte de qualquer jeito, não passe pelo seu sofrimento de qualquer jeito, só vem a glória se, de fato, mergulharmos no mistério da morte. Não é para ficarmos na morte, mas devemos olhá-la de frente para que ela não seja maior que nós.

Que nessa manhã de espera e ressurreição você não se esqueça que você é um filho do Céu!

Padre Fábio de Melo

Fonte: Canção Nova

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Feliz Páscoa!!



quinta-feira, 9 de abril de 2009

Tomar posse do que sou

por Padre Fábio de Melo



O homem e a mulher que traz a arte em si é como uma ‘faca de dois gumes’. Sejamos sinceros, nós não somos muito normais. Vivemos sonhando, somos fácil de sair do discurso concreto para o sonho. Meu corpo esta andando e minha mente está parada ‘sonhando’.




O artista tem o seu caminho. Não somos melhores, somos diferentes. A Igreja precisa descobrir como tocar o coração do artista, porque tem um jeito diferente de ser e precisar ser cuidado. O romântico, por exemplo, tem o risco de passar a vida sem viver porque sonha tanto que deixa a vida passar.




Você já viu quando a inveja toma conta de nós e achamos que o outro é melhor? É um risco que o artista tem e o leva a cair. Ele precisa tomar posse daquilo que é, porque se não se vive isso, não é vida.
Ser pessoa é dispor-se de si e depois dispor-se para o outro. Só pode ser disponível quem se dispõe de si.




Conversão é tomar posse daquilo que se é. Por isso, Deus não pode trabalhar com uma pessoa mascarada, que não se aceita. Ser pessoa é antes de tudo ter concieência: “Eu sei quem sou eu. Tenho diante de mim minhas dificuldades, mas eu me aceito!'
Não existe cristão que não se aceita do jeito que se é. Você é o que você é, e a sua conversão passará por aquilo que você é!
Eu tomo posse daquilo que sou.




Jesus quando viu Maria Madalena, Ele fez com que a aquela mulher voltasse a ver aquilo que ela era, não uma prostituta, mas uma filha de Deus projetada por Ele, e não aquilo que a sociedade criou.
Nós caímos muito nos artifícios que nos são apresentados. Nossa vida se ilumina por novidades e gostamos muito do estético, e seguimos aquilo que é diferença, não somos fã da disciplina.
Corremos atrás de coisas e duas semanas depois vemos que realmente aquilo não é tão bom como parecia.
Por que os artistas não 'duram' muito nos casamentos? É por causa disso. Querem respostas rápidas, românticas, buscam o brilho eterno e acabam desanimando. Então, o outro começa a decidir por nós e ficamos perdidos. Muitas pessoas, ora dão um testemunho que acredita em Deus, e passado um tempo depois, já dizem acreditar em Buda, depois Maomé, na energia... Não ficam presos em nada.




Cuidado em seguir somente as vaidades, esse negócio de usar uma blusa com uma imagem cristã ou uma cruz, mas tudo por vaidade. Sim, nós artistas somos vaidosos, mas não podemos ser levados pela vaidade. Não invente um personagem, seja aquilo que você é. Seja autêntico, assim você provoca autenticidade nas pessoas a seu redor.
Eu só posso ser padre na verdade, não posso pedir para que as pessoas finjam para que assim eu goste delas.




Entre o que os outros imaginam e o que Deus fez eu prefiro ser o que Deus fez. Deus não vem plantar a sua floresta mas Ele te dá uma semente e você que vai plantar. Procure ser aquilo que Deus te fez. Se você está correndo atrás de porcaria cuidado para não acabar deixando de ser aquilo que Deus fez. Não corra atrás de porcaria, isso é a maior arte. A arte de ser aquilo que nós somos requer arte.




“Não sou perfeito, mas estou correndo atrás daquilo que sou”.




Deus acontece plenamente no coração quando nós permitimos ser aquilo que nós somos. A nossa divindade só acontece na participação.
Deus é tudo para mim! Retire-me o Evangelho e eu não sei mais para onde olhar. Se tira-me da mira de tudo aquilo que eu considero santo e sagrado, eu passo a não conhecer mais minha própria identidade. Isso é humano e divino. Apaixone-se por você. Não seja aquilo que dizem que você é. Parece estranho, mas não podemos dar aquilo que não temos.





Se você não descobrir que você é sagrado, você não vai perceber a sacralidade que o outro é!

Ou você vive no amor por você ou você não sabe o que é o amor de Deus. Quem não se ama não sabe amar ninguém. É uma pessoa ausente de si mesmo. Os amores estragados que passaram minou aquilo que se era.
Tem pessoas que vemos que não tem amor próprio, e você não tem o direito de perder esse amor.

O homem e a mulher que se ama o diabo não tem vez. Quem se ama não traz vícios para si mesmo porque se ama!
Por que me drogar? Eu me amo não caio nisso! Não é possível uma pessoa se amar e se destruir.
Tome posse do que você é para depois dar-se ao outro. Seja o que você é mesmo que pareça feio, ‘nós damos um banho na lama e vai sobrar um diamante lindo’.

Que o seu teatro desperte verdade, a verdade daquilo que nós somos que nos prenda a Deus, porque só quem é preso em Deus é livre no mundo, e é isso que eu gostaria que você fosse.

18/11/2006 - 11h00

Fonte: Canção Nova

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Lançamento do livro"Cartas entre Amigos" no Rio de Janeiro

14/05

Onde: Rio de Janeiro - RJ

Evento: Lançamento do livro: Cartas entre amigos – Medos Contemporâneos
Tel.: ( 21) 3974-2500

Informações:
Local: Academia Brasileira de Letras
Hora: 17:30h
Endereço: Av Presidente Wilson, 203 - Castelo

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Primeiro capítulo 'Cartas entre amigos - sobre medos contemporâneos'

Primeira carta


"Não entendo
a tristeza como
ausência de
felicidade. Acho
que elas coexistem.
somos felizes e
tristes. Felizes
porque tentamos
entender a nossa
missão. Tristes
porque assim
tem de ser.”


Querido irmão padre Fábio

Tenho saudade dos meus dois irmãos que estão com Deus. Meu irmão Sávio morreu aos 21 anos. Jovem, belo, apaixonado pela vida. Um acidente de carro roubou-lhe a possibilidade de prosseguir em sua travessia.

Vi meu irmão morrendo. Estava ao seu lado. Ele dirigia e contava histórias de um amanhã que não chegou. Cantamos sozinhos naquela noite longa. Nós dois. Eu tinha apenas 15 anos e, por milagre, sobrevivi. Vi seu soluço inconsciente, seu suspiro final. Tentei abraçá-lo, enquanto vozes se aproximavam. Meus braços não se moviam. A dor física era pequena diante da possibilidade da separação. Olhei-o com ternura. Separamo-nos. Meu irmão partia sem ter o direito de se despedir. Sem dizer o que gostaria que fizéssemos por ele. Apenas partiu. Minha mãe vestiu-se de preto por algum tempo. As sombras tomavam seu semblante, e gritos de dor eram entremeados por dias de silêncio. Meu pai era só silêncio. Em suas orações, lágrimas solitárias pediam a Deus que acolhesse o fruto do seu amor. A morte nunca tinha estado tão perto de mim. Acho que não pensava muito nela. Nos dias em que fiquei engessado, tentando recompor partes quebradas do meu corpo, quebrei-me em perguntas sem respostas. Por que o caminhoneiro dormira? Por que ele partira e eu ficara? Porque apenas o meu banco quebrara, jogando-me um pouco para trás, e o dele não, se ele era maior do que eu?

Antes do acidente com o Sávio, convivi com a morte quando meu avô Gabriel partiu. Foi pouco tempo antes. Sofri também, mas compreendi que seu sofrimento físico tinha chegado ao fim. Assustei-me quando o vi num caixão. Lembrei-me dos dias em que eu, criança, dava aulas para ele e para minha avó num quadro-negro. Chorei a certeza de não mais ouvir suas anedotas singelas e suas histórias de uma Síria do passado. Fazia poesia com simplicidade, meu avô Gabriel.

Mas a morte do Sávio... Sou o filho caçula. Dormíamos no mesmo quarto, e ele fazia-se de forte, investigando todos os lugares onde poderia haver algum perigo capaz de nos atingir. Sorria quando, depois de certo suspense, comunicava que nem debaixo da cama, nem atrás das cortinas, havia monstros ou figuras semelhantes. Podíamos dormir em paz. Era carinhoso. Irreverente. E gostava de viver.

Meu irmão Júnior também partiu. Sua alegria pura, sua ingenuidade de uma infância sem fim, presentes da síndrome de Down, fazem falta. Meu pai dizia da dolorosa surpresa quando soube que meu irmão era diferente das outras crianças. Minha mãe também estranhou sua chegada. Mas isso foi por pouco tempo. Júnior tornou-se o centro das atenções. Cantarolava sozinho e sorria sem economia. Beijava, abraçava e vez ou outra chorava. Tentávamos entender onde era a dor. Não era fácil. Sua melhor comunicação vinha da alegria apenas. Na cadeira de balanço, meu pai brincava com ele. Minha mãe dava-lhe na boca o alimento que nutria seu corpo e sua alma. Sua partida deixou um vazio imenso. Trinta e poucos anos e nada mais. Brincou de dia. Brincou no hospital e se foi... brincando.

Irmãos que partiram prematuramente. Irmãos que continuam presentes na capacidade que tenho de pensar neles.

Quando nos conhecemos, padre Fábio, eu não imaginava que nossas almas tivessem raízes comuns. Fomos plantados em solos fertilizados com sofrimento e esperança. Sua poesia, misturada a alguma tristeza, torna seus dizeres mais profundos. Seu jeito de falar, sua forma de estar presente, sua capacidade de ouvir a dor, tudo isso foi fazendo com que nossa travessia ganhasse um novo sentido. Você é meu irmão, sim, padre. Não em substituição àqueles que partiram, mas em presença de Amor. Com você, sinto-me livre para errar com minhas verdades provisórias. Com você, não tenho pressa. Gosto de ouvir suas canções e suas histórias. Admiro seu jeito de falar de Deus, sua estética religiosa, seu talento humano. Faz algum tempo que partilhamos projetos e dúvidas, e tem sido tão bom. A felicidade só deixa de ser utopia quando nos completamos com a inteligência e o afeto do outro.

Não entendo a tristeza como ausência de felicidade. Acho que elas coexistem. Somos felizes e tristes. Felizes porque tentamos entender a nossa missão. Tristes porque assim tem de ser. A tristeza nos empresta respeito ao outro e percepção mais aguçada da dor. Talvez tristeza seja ausência de alegria, de riso fácil, não de felicidade.

Hoje é véspera de um dia qualquer e estou triste. Acordei com saudade do meu pai. Tantas coisas aconteceram em minha vida depois que ele se foi. Meu pai. Quando escrevi a sua história como um presente em seu aniversário de 80 anos, não tive dúvida quanto ao título: Memórias de um homem bom. Sua simplicidade falava-me de um Deus que mora na ternura e que acolhe. Sua sabedoria falava-me de um Deus que não julga, mas compreende; que não afasta, mas ama. Seu olhar permitia-me lançar-me em aventuras, ora corretas, ora necessárias à satisfação da minha curiosidade. Caí algumas vezes. Mas eu sabia que ele estava ali para qualquer arranhão mais doloroso. Ele não está mais aqui comigo. Está em mim, porque trago muito do que ele deixou. Mas ele não me abraça. Não sorri para mim. Não me diz coisas que cicatrizem as minhas feridas. Tenho saudade do meu pai, padre. Do seu colo, das suas cantigas amadoras, das histórias recontadas de uma vida marcada pela dor. Meu pai sofreu muito. E sem lamúrias. Minha fortaleza partiu para junto de Deus. Eu entendo que estamos aqui de passagem. Tenho fé de que há outro porvir, um lindo céu que nos aguarda, mas isso não retira de mim a saudade que dói.

Meu pai falava de mim com orgulho, do seu filho escritor. E eu brincava com ele, dizendo que não havia idade para ingressar no mundo das letras transformadas em história ou em dizeres poéticos. Cora Coralina estreou na literatura aos 76 anos de idade e fez da vida e da morte uma poesia:
Não morre aquele
que deixou na terra
a melodia de seu cântico
na música de seus versos.

Cora viveu de felicidade e de tristeza. Teve uma infância que não deixou saudades. Ela escreveu isso muitas vezes.
Quando nasci, meu velho pai agonizava,
logo após morria.
Cresci sem pai,
secundária na turma das irmãs.

Eu era triste, nervosa e feia.
Amarela, de rosto empalamado.
De pernas moles, caindo à toa.
Os que assim me viam – diziam:
“Essa menina é o retrato vivo
do velho pai doente”.

Falava dos apelidos debochados, do sonho frustrado da mãe de ter um filho homem, dos trambolhões da escada, galo na testa, pernas moles. Falava de uma dor doída de uma infância que não viu sorriso. A dor poderia tê-la paralisado. Mas o cenário dos sentimentos viu outra apresentação. Cora Coralina rezou a saga da mulher vitoriosa:
Ajuntei todas as pedras
que vieram sobre mim.
Levantei uma escada muito alta
e no alto subi.
Teci um tapete floreado
e no sonho me perdi.

Uma estrada,
um leito,
uma casa,
um companheiro.
Tudo de pedra.

Entre pedras
cresceu a minha poesia.
Minha vida...
Quebrando pedras
e plantando flores.

Entre pedras que me esmagavam
levantei a pedra rude
dos meus versos.

Cora Coralina não buscou o lado mais fácil da vida, mas conseguiu compreender que, mesmo sem facilidade alguma, era possível encontrar a tal poesia no cotidiano da dor. Não há poesia sem dor. A vida nasce da dor. O amor mais amado surge depois de uma dor prolongada. Amor de mãe!

Não há amor sem conquista. Os amantes precisam ao menos se deixar conquistar. As artimanhas da sedução têm o encanto próprio de quem tenta tocar no ponto frágil para depois fortalecerem- se juntos. Amores doídos, os não correspondidos. Histórias de ausências, de lágrimas, de quem deu e não recebeu. Não deveria ser gratuito o sentimento daquele que ama? Não é gratuita a chuva que cai abundantemente? A vida, toda ela é uma graça. Mas os homens não são deuses. E poucos são aqueles que conseguem dar sem exigir, sem projetar. “Quebrando pedras e plantando flores.” Quando penso nos sofrimentos de meu pai e na sua leveza, fico me perguntando se uma coisa tem relação com a outra. Será que as pessoas que mais sofrem são as que mais amadurecem? Será que a dor tem o poder de dar majestade ao amor?

Na minha infância, padre Fábio, experimentei a carência que todo menino de certa forma experimenta. Meu pai ficou doente algumas vezes, e eu esperava sua volta depois de longas sessões de quimioterapia. Sofria calado. A ausência poderia chegar a qualquer momento. Eu rezava do meu jeito. E meu pai ficou curado. O tempo passou, e, sem doença alguma, ele se foi. No dia em que meu pai morreu, tínhamos ido juntos a um casamento. Ele sorria com certa tristeza e, com delicadeza, se preocupava em não atrapalhar a festa com o incômodo da sua dor. Era apaixonado por minha mãe e sabia quanto ela gostava de festas. Sacrifícios por amor trazem menos dor. Fomos juntos para casa, depois juntos para o hospital. Depois, separados. Beijei-o com ternura e fiquei imaginando o que ainda ficara por ser dito nesses anos em que falamos muito ou quase nada.

Pergunto muitas vezes a Deus: por que tanto sofrimento se um dia estaremos juntos, plenos de amor?

Chorei a ausência das reações humanas daquele corpo sem vida. Chorei a orfandade incômoda, o adeus forçado, a separação. Choro hoje a impossibilidade dos afetos. É abstrata a sua presença. É memória e esperança. Apenas isso. Meu pai amado não passa mais os natais comigo, nem meus aniversários.

Em uma triste carta, uma mulher contou-me sua história de dor. Ela perdeu um filho com alguns meses de vida, engasgado com mingau. Perdeu um sobrinho queimado e um neto afogado. Na carta, ela queria que eu explicasse por que essa sina de tantas crianças mortas em sua família. Queria uma resposta. Queria saber se Deus, por algum motivo, tinha decidido castigá-la. Li algumas vezes aquele bilhete ensanguentado de perdas. Tentei formular alguns dizeres. Falar apenas que é preciso ter fé parecia não diminuir a angústia de uma vida de ausências arbitrárias. Ela naturalmente não tinha escolhido. Não houve decisão voluntária de se afastar das sementes que não chegaram a germinar. Por que com ela? E tantas vezes seguidas? Fiquei imaginando as reações. O desespero. O choro diante da criança. A culpa. Como reconstruir? “Quebrando pedras e plantando flores”? Como convencê-la disso?

Hannah Arendt é uma das maiores filósofas da história do pensamento.

Nascida em Hannover em 1906, teve uma infância acalentada com todo o carinho e estímulo cultural necessários a uma vida de sucessos. Os pais eram judeus assimilados e apaixonados pela liberdade que o respeito ao outro proporcionava. Leu em livros e aprendeu com exemplos o sentido de uma vida correta. Brincou de ser independente, de dizer o que pensava.

Diferentemente de Cora Coralina, a infância de Hannah prenunciava uma vida sem grandes traumas. Embora tivesse perdido o pai muito cedo, a mãe a educou seguindo os melhores preceitos do amor e dos limites corretos, para que a responsabilidade pelo outro, a autodisciplina e a harmonia interna e externa não fossem abandonadas.

Sua vida, entretanto, começa a mudar com a Primeira Guerra Mundial, de 1914. De uma infância segura e feliz a uma adolescência frágil. A mãe casou-se com outro homem, e Hannah tornou-se triste e rebelde. Em 1924 o filósofo Martin Heidegger aceitou orientar sua tese sobre o conceito de amor em Santo Agostinho. Hannah apaixonou-se perdidamente por Heidegger. Ela tinha 18 anos. Ele tinha 35, era casado e pai de dois filhos. Foram amantes por algum tempo, até que, depois de tanto sofrer de paixão, ela resolveu pôr fim à história e se casar com outro homem. Sem conseguir separar o amor dos embates filosóficos, Hannah passou a ser orientada por outro pensador, amigo de Heidegger, Karl Jasper. Esse professor tornou-se o exemplo de integridade moral e intelectual para a jovem Hannah. Depois da defesa do doutoramento, a alegria de ingressar na atividade docente foi subtraída pela ascensão dos nazistas ao poder. Sua grande frustração foi ver Heidegger, o homem que ela amou e admirou, apoiando os nazistas. Hannah foi presa, mas conseguiu fugir ilegalmente para Paris, onde conheceu Walter Benjamin e outros judeus-alemães refugiados do novo regime. Sua felicidade na cidade das luzes durou pouco. Os alemães invadiram Paris, e, com Walter Benjamin e alguns amigos, Hannah partiu em direção à Espanha. A fronteira estava fechada. Sem conseguir resistir ao medo de ser pego pelos nazistas, Benjamin suicidou-se. Hannah assistiu à partida de todos aqueles que admirava. A solidão e a dor não a destruíram. Da Espanha, Hannah partiu para Lisboa e em 1941 chegou aos Estados Unidos.

Hannah Arendt não falava inglês, o que dificultou seu ingresso intelectual na nova pátria. Sentiu-se discriminada, mas prosseguiu. Lutou pela vida e pela possibilidade de defender seus irmãos semitas e tantos outros irmãos privados da liberdade ou da construção da própria história apenas por terem nascido filhos de um povo perseguido. Em 1951, Hannah Arendt tornou-se cidadã americana. Em pouco tempo a refugiada se transformou na famosa conferencista que encantava os ouvintes em Harvard, Princeton e Chicago. Voltou à Alemanha e a Paris respeitada pelos conceitos que disseminava. E o mais fascinante em sua história é que, mesmo depois de tanto sofrimento, seu grande legado foi a ideia de que a solução para a humanidade estava no amor mundi, ou seja, no amor pelo mundo. Em sua obra A condição humana, publicada em 1958, Hannah Arendt faz um retrospecto da história do pensamento desde os gregos e romanos, tentando explicar a presença do homem no mundo e seu percurso em busca da liberdade. A liberdade que só pode ser proporcionada por um amor capaz de construir e respeitar as diferenças. “Quebrando pedras e plantando flores” – essa foi e é a marca de Hannah Arendt.

Pensei em dizer alguma coisa parecida à mulher sofrida que buscava razões para as suas perdas, para as suas pedras. Temi dar uma resposta pronta, fácil, para uma vida tão dura, tão difícil.

Lembrei-me de um amigo querido, que, nos momentos finais da vida terrena, em um quarto de hospital, perguntou-me sobre o fim. Tentei responder como alguns filósofos explicavam a morte, e ele, inquieto, queria saber o que eu pensava do fim. É mais fácil dizer o que os outros pensam do que dizer o que a gente sente. Era um amigo que partia. Um amigo amado. Tinha sido meu professor de história e me ensinado a conhecer um pouco da riqueza do homem no mundo. Respondi que não sabia. Que o mistério da partida não tinha sido revelado a homem nenhum. Lembrei-lhe que, nas aulas que magistralmente conduzia, ele nos falava das muitas religiões, cada uma com explicações tão diversas para o adeus do corpo. Ele apenas me olhava, esperando que algo mais fosse dito. Não se tratava mais de uma pausa. Tratava-se do fim. Pausas existem aos montes em nossa vida. Como as pálpebras que fazem toda a diferença porque descansam a visão. Ele sabia que as pálpebras em pouco tempo descansariam para sempre e queria uma resposta. O que eu disse naquele janeiro ensolarado em um quarto de hospital foi que acreditava em Deus. E ele concordou com a cabeça, dizendo que também acreditava. E eu me enchi de coragem e disse-lhe que ficasse tranquilo. Se Deus de fato existisse, não nos trataria como um brinquedinho que, quando velho ou estragado, se joga fora para dar lugar a outro. Fomos feitos para muito mais que isso. Ele sorriu. Naquela espera do fim, ele sorriu. De fato, Deus não nos fez para o nada, mas para a plenitude. E a plenitude é complexa demais para que nossa razão saiba explicá-la. Meu amigo ficou com as pálpebras cerradas, assim como o filho, o sobrinho e o neto da mulher que me escrevera aquela carta.

Padre Fábio, parece-me impossível não ter medo da morte. Por mais intensa e significativa que seja nossa fé, por maior que seja nossa intimidade com Deus, esse mistério incomoda profundamente. Por que não nos foi revelado em momento nenhum o que virá depois? Não seria menos doloroso? Não viveríamos com mais serenidade? Por que essa espera?

Uma vez, no enterro do filho único de uma mulher octogenária, ouvi de um padre uma metáfora. Diante da dor, ele falava do inverno na Europa. No Velho Continente, as flores morrem quando o frio chega. Os ramos secos mostram que a vida ficou no passado. Ledo engano, dizia o padre. Na primavera, elas ressurgem miraculosamente. Se não soubessem disso, talvez perdessem a esperança de ver novamente o jardim florir. A morte é a primavera da alma. O que parece ser o fim da vida é vida em transformação. Será isso, padre? Por que o mistério? Por que não sabermos antes, com detalhes, o que virá depois? Se somos eternos, por que precisamos passar pela morte? Não poderíamos ter nascido todos no céu e sermos todos felizes de uma vez? Quem decidiu assim? Deus?

Tenho saudade do meu pai. Estou ouvindo agora a linda música de A vida é bela, de Roberto Benigni. O filme é de 1997 e conta a saga do livreiro Guido, que foi levado para um campo de concentração nazista, na Itália dos anos 40. Mesmo ciente da gravidade da situação, o pai conseguiu, com muita imaginação, transformar os horrores da rotina do campo de concentração em regras de uma gincana divertida, pelo menos aos olhos do filho de 6 anos. O intuito era proteger o filho do terror e da violência que os cercavam.

O filme traz o contraste entre as pedras e as flores, entre a vontade de ser feliz e a monstruosidade da guerra, entre o desejo do amanhecer e as agruras da noite longuíssima. Com espírito leve, porém crítico, comoveu plateias ao falar de um dos maiores dramas do século 20: o Holocausto.

Benigni se disse influenciado, além de Charles Chaplin, por Leon Trótski, um dos artífices do socialismo russo. Em seu exílio no México, foragido de seu país, ameaçado de ser morto a qualquer momento, Trótski foi capaz de contemplar a mulher no jardim e escrever que, apesar de tudo, a vida é bela e digna de ser vivida.

É esse otimismo incansável que impregna a história de Guido e faz do filme, como disse seu diretor, “um hino ao fato de estarmos condenados a amar poeticamente a vida porque ela é bela”.
O pai ia para a morte e se preocupava com a vida do filho. Milhões de judeus morreram da mesma maneira, e ainda assim uma judia, Hannah Arendt, justificou os males do mundo como a ausência do amor, o amor pela pessoa humana, o amor pela natureza. Ontem, visitando uma amiga, fiquei impressionado com o amor que ela dedica a um cachorrinho que chegou à sua casa pelas mãos de uma amiga que não suportava mais as suas farras caninas. O cachorro, ainda filhote, não parava um minuto. E ela sorria com a alegria que tinha aquele animal. Hoje, vi um homem batendo em um cachorro que não lhe obedecia. Defendi o animal, que parecia se contorcer de dor. Ninguém aprende assim! Por que um cachorro teve a sorte de encontrar um lar cheio de afagos e outro é vítima de espancamentos? Por que algumas crianças nascem em lares saudáveis e outras não? Por que, meu amigo, há tanta beleza de alma confrontada com tanta feiura? Quem decidiu isso?

Não soube o que dizer à mulher que me escrevera aquela carta. Apenas ensaiei alguma poesia para aliviar o seu provável pranto e contei-lhe outras histórias tristes que talvez a consolassem. Ao final, disse-lhe para não se esquecer de que continuava viva, e todas essas crianças viviam nela e em um lindo céu, que eu não tinha o poder de descrever, até porque não se tratava de um
lugar, mas de um estado de amor.

E agora tenho de dizer isso para mim também. Meu pai vive em um estado de amor junto com tantos que simplesmente amaram. Mas não posso abraçá-lo. Talvez possa dizer alguma coisa,
acho que ele me ouve.

“Quebrando pedras e plantando flores”... A vida é bela, meu irmão amado.

Sua bênção,
Gabriel


Segunda carta

“O amor nos socorre
do esquecimento.
Retira o poder
definitivo da lápide,
porque sobrevive
na continuidade
do que plantamos.”


Querido Gabriel

Obrigado por sua carta. O papel pousado sobre a mesa segreda motivos que não cabem nos conceitos das palavras, mas extrapolam a grafia porque pertencem a algo a que não sabemos
dar nome. Sua carta foi uma visita agradável que recebi. Chegou quando não a esperava e quebrou a sequência do meu cotidiano. Floresceu diante de meus olhos, assim como o ipê desafia as regras do inverno e se reveste de flores.

Meu caro amigo, diante de suas confissões, concluo mais uma vez que a dor é um território santo.

Há uma passagem na Sagrada Escritura que considero de beleza insondável. Moisés estava diante de uma sarça que ardia sem se consumir, quando ouviu o imperativo de Deus: “Retira as
sandálias dos teus pés, porque este solo que pisas é santo!”.

Confesso que este imperativo musicou meu coração durante a leitura de sua carta. A trilha sonora fez com que as palavras lidas se misturassem às palavras recordadas. É a partir desta simbiose que lhe respondo.

Confesso que estou temeroso. Não gosto de respostas apressadas. Tenho medo de dizer, sem dizer, afinal, que o que há de mais precioso nesta vida costuma ser vivido e experimentado a
partir do silêncio frutuoso.

Carlos Drummond de Andrade, o poeta mineiro que você admira profundamente, recomendava que, antes de escrever os poemas, é preciso conviver com eles.

Ele insinuava que antes do nascer da palavra há sempre um sabor de silêncio que precisa ser sorvido.

Creio que o poeta tinha razão. A boa palavra se alimenta de silêncios e pausas. Um grande poema costuma nascer de profundas e fecundas experiências de contemplação da realidade. O poeta, ao enxergar o silêncio do ainda não dito, diante dele se prostra e o experimenta, e somente depois o reveste de palavras.

Suas perguntas são religiosas. Elas buscam unir as pontas da corda que amarra a vida e a sustenta de sentido.

Costumo dizer que a dor é uma quebra da corda, porque nos retira da segurança. Há acontecimentos que nos fazem mergulhar no absurdo da existência. O absurdo é a ausência de sentido. É o momento da vida em que a alma se sente penetrada e transpassada por uma dor lancinante. É no momento do desespero que experimentamos a nossa humanidade em suas dimensões mais venturosas. Os exemplos já foram postos por você. Cora Coralina só foi a mulher que foi porque não fugiu dos absurdos do mundo. Deles fez poesia qualificada. A alma transliterada nos faz mergulhar nos recônditos de uma mulher que não viveu por acaso. A dor transmudada, redimida, purificada nos calvários da escrita que o ofício poético lhe reservou na velhice tem o poder de nos devolver a apetência do sonho. Cora Coralina nos encoraja a enxergar as belezas que se escondem nas tristezas.

Há um poema belíssimo em que ela narra a demolição do sobrado que marcou os áureos tempos de sua mocidade. A descrição minuciosa do acontecimento nos leva a experimentar os mesmos sentimentos que ela. Eu, que nunca havia pisado as soleiras do nobre sobrado, chorei com ela a amovibilidade daquelas paredes tão frágeis.

Gabriel, vez ou outra nós também presenciamos a demolição de nossos sobrados interiores. Vez ou outra precisamos encarar os monturos que restaram de nossas realidades. É o tempo, e sua bbatuta implacável a reger os acontecimentos. É o inevitável e seus dentes afiados.

Meu amigo, ao narrar a morte de seu irmão, pude reconhecer em suas palavras o ruir de uma presença humana. Sobrado suntuoso, acolhedor, ocupando a centralidade de sua cidade interna. Sseu irmão cumpria o ofício de ser parede protetora, telhado que o resguardava de seus medos, varanda que lhe permitia contemplar o bom da vida, naquilo que chamamos de fraternidade.

Um dia a fatalidade o resgatou. O sobrado foi demolido, assim como fora o sobrado de Cora.

Da mesma forma, seu pai, o homem que projetou a arquitetura de seu caráter e que lhe ensinou tudo o que você sabe sobre a bondade, também foi embora de maneira definitiva. Grandes pperdas, grandes pedras. Grandes aprendizados, grandes flores.

Gabriel, tenho contemplado de perto os calvários da humanidade. Mulheres com os filhos mortos nos braços, gritando pelo sentido, chorando a dor que não tem nome, a inversão brutal das regras da vida, o absurdo de ver partir, antes do tempo, a cria de suas carnes. Mulheres semelhantes àquela que entrou em sua vida através de uma carta e que reivindicava o direito de compreender o mistério da morte de seus inocentes.

Mais uma vez eu me recordo de Drummond e de seu sábio conselho: “Convive com os teus poemas antes de escrevê-los”.

Meu caro amigo, há acontecimentos que não combinam com explicações. E, mesmo que explicações existissem, não seriam capazes de aplacar a dor que provocaram. Nem sempre os claros e objetivos postulados da razão cartesiana conseguem resolver as questões humanas. Saber o porquê da morte não sana nem preenche a ausência sentida.

Como homem da religião, tenho constatado que o discurso religioso, quando mal aplicado, pode ser tão nocivo quanto o discurso desumano dos assassinos.

Escuto absurdos sobre Deus, quando pessoas movidas por boas intenções resolvem explicar as fatalidades do mundo. Frases simplórias e descomprometidas com a verdade não resolvem; ao contrário, agravam ainda mais o sofrimento, porque geram orfandade, descrença e abandono.

Justificam as tragédias humanas como “vontade divina”, retirando assim a responsabilidade humana dos acontecimentos, fruto das escolhas que fazemos. Respondem a tudo e a todos como
se o desvelamento do mistério pudesse resolver as questões.

Eu ainda prefiro o abraço solidário, o silêncio que nos permite proximidade e o comprometimento com a dor que me toca. Ainda prefiro sentir o vento frio do calvário a procurar o aquecimento mmórbido do sepulcro que nos cala antes da hora.

Gosto de compreender as religiões como tentativas humanas de refazer a corda. Tenho medo quando o discurso religioso é utilizado para responder de forma mágica a questões que são humanas, sangradas no asfalto das cidades, em lugares que nossos olhos não alcançam.

Por isso não tenho receio de afirmar que o específico das religiões não consiste em responder às perguntas, mas em nos ensinar a conviver com elas. Na tentativa de resolver os conflitos que nos afligem, corremos o risco de atentar contra a sacralidade dos fatos.

Dessa forma, deixamos de plantar as flores e insistimos em chorar sobre as pedras. Diante do sobrado demolido, Cora Coralina resolveu escrever o poema, pois sabia que as palavras poderiam resguardar o significado de tudo o que as pedras insistiam em sepultar.

Gosto de compreender a ressurreição de Jesus da mesma forma. Diante da ausência sentida, a saudade fez o apóstolo intuir e proclamar: “Ele está no meio de nós!”. O grito nasce do reconhecimento da transformação acontecida. Eles não eram mais os mesmos. O sobrado crístico já estava erigido na alma de cada um. João, o homem que era chamado “filho do trovão”, o homem de temperamento difícil, revestia- se de docilidade. Pedro, o homem que mal sabia falar, o homem que foi frágil até o momento da morte do melhor amigo, estava mergulhado numa coragem invejável. Eles se olhavam e percebiam que Ele não havia ido embora, mas apenas modificara a forma de ficar.

Isso retira a necessidade que temos da materialidade da ressurreição. Não importa que haja um corpo encontrado ou um corpo desaparecido. O que a ressurreição nos sugere é muito mais que um corpo material. O mais importante, e o que verdadeiramente pode mover o cristianismo no tempo, não está na prova material da ressurreição, mesmo porque não a temos. O que possuímos, e isso ninguém pode contestar, é o fato de que os discípulos nunca mais foram os mesmos depois da vida, morte e ressurreição de Jesus. A declaração cristã “Ele está no meio de nós!” nos assegura a continuidade do plantio das flores. Onde existir um ser humano comprometido com as palavras e a proposta de Jesus, lá Ele estará presente. Isso não é lindo, meu amigo?

Teilhard de Chardin, teólogo jesuíta, chamava isso de “cristificação do universo”. Esta mística nos permite uma aproximação ainda mais interessante da eucaristia, acontecimento ritual que nós, católicos, chamamos de “presença real de Cristo”. O que é a presença real? A matéria consagrada? O pão e o vinho somente? Não. Juntamente com as duas substâncias está o bonito e sugestivo significado da ausência. A comunidade que celebra, enquanto celebra, prepara a chegada do que vai voltar. A volta de Jesus não é apenas um acontecimento escatológico, reservado ao final dos tempos, mas induz a comunidade a um comprometimento histórico com as dores do mundo.

Jürgen Moltmann, grande teólogo alemão contemporâneo, aprofunda de maneira muito preciosa o conceito de esperança. Segundo ele, a esperança cristã é sempre operante, porque nos mobiliza a atualizar no tempo a presença do esperado.

Com isso, podemos saborear a espera. Ao socorrer os necessitados, podemos antecipar a volta de Jesus. Ao consolar o coração de uma mulher que perdeu um filho, e com ela sendo solidários, podemos dar início ao processo de sua cura.

Isso também é celebrar o mistério eucarístico. É deitar a toalha branca sobre o altar do coração humano, reconhecendo nele a dor que precisa ser redimida, e elevá-lo, em prece, aos céus. É a ausência humana sendo curada através da presença comprometida, movida por uma esperança operante, que encontra motivos para continuar na celebração sacramental que nasceu da ausência sentida.

O motivo da última ceia foi a preparação da ausência. Foi a oportunidade que Jesus teve de sacramentar em seus discípulos a coragem da continuidade. Nada mais bonito que preparar a ausência com um jantar entre amigos. O prato principal não era material. Do que eles precisavam era aprender a mística do alimento. Nós nos transformamos no que comemos. O que Jesus propunha não era um ritual de antropofagia. Comer e beber juntos significa estarmos comprometidos. O banquete não é lugar para saciar somente a fome do corpo, mas também a fome da alma. Ao estar com os que amo para me alimentar, de alguma forma eu os trago para dentro de mim.

Ao interpretar a transcendência do amor interpessoal, o filósofo Gabriel Marcel intuiu que amar consiste em olhar o amado nos olhos e dizer: “Tu não morrerás jamais!”. Ele pode ter aprendido isso ao contemplar a última ceia. Cora Coralina disse a mesma coisa, mas com palavras diferentes, que você citou em sua carta: “Não morre aquele que deixou na terra a melodia de seu cântico, na música de seus versos”.

O amor nos socorre do esquecimento. Retira o poder definitivo da lápide, porque sobrevive na continuidade do que plantamos. Por isso a ausência é lugar de encontro. Basta exercer a força da visão poética, a via que costuma salvar o mundo de seus desesperos e ruínas.

Uma bonita expressão atribuída a São João da Cruz, o grande místico cristão, nos diz que “o que podemos conhecer de Deus são as pegadas de sua ausência”, uma frase que desconcerta os religiosos ávidos por sinais concretos. O que temos de Deus são vestígios. Por isso é tão importante não perder o desejo de procurar. Encontrar respostas é satisfação temporária. O bom mesmo é a investigação que nos mobiliza. As teologias nascem dessas ausências. É a partir delas que as teologias postulam as suas verdades, porque a ausência é uma categoria cheia de sugestões.

Volto à eucaristia. O que celebramos e o que vemos é muito pouco perto de tudo o que verdadeiramente significa o rito. Não podemos materializar a eucaristia, retirando-a da totalidade de sua abrangência. Digo isso, meu amigo, porque reconheço suas dores como eucarísticas. Assim como foi também a dor de Hannah Arendt, de Cora Coralina e de tantos homens e mulheres que semearam o mundo de flores e sentido.

Da mesma forma que não posso reduzir a eucaristia a um detalhe de sua totalidade, também não quero reduzir sua carta a uma simples resposta.

Permita-me dizer que suas perguntas, nascidas de suas ausências, saudades e indignações, em vez de me provocarem o desejo de lhe responder, fomentaram em mim muito mais silêncios que palavras. O pouco que escrevo é apenas um modo que tenho de dividir o que creio sobre tantas coisas, e que por ventura entra no contexto de suas falas. Talvez eu não tenha respondido absolutamente nada. Não importa. O mais bonito de tudo isso é saber que suas palavras me fizeram pensar nos sobrados que já reconstruí dentro de mim. Ausências às quais aprendi a atribuir sentido. Sofrimentos que antes eram capazes de me sepultar e que agora me sugerem experiência de plantio de flores.

O mais importante é que no sacramental desta carta pude recebê-lo em minha casa e a seu lado deitar a toalha branca sobre o altar dos nossos significados, para juntos repetirmos no tempo o que nele não cabe. A matéria que celebramos? Ainda não sei. Vou seguir o conselho do poeta. Vou conviver com ela e saborear o seu poder de silêncio, antes de encontrar as palavras que possam dizê-la ao mundo.

Obrigado pela eucaristia que sua carta me permitiu celebrar. Confesso que, ao terminar a leitura, tive o ímpeto de repetir uma expressão ritual, aquela que assegura a sacralidade da palavra proferida: “Palavra da Salvação!”. No íntimo de meu coração, rezei dizendo: “Glória a Vós, Senhor!”.

Permaneçamos unidos. Nesta mística, neste tempo, neste mesmo sobrado que os sábios chamam de amizade e que nos ajuda a enfrentar os medos que sentimos.


Com minha bênção,
Pe. Fábio


Fonte: Livraria Cultura

* Pré-Venda: Cartas Entre Amigos: Sobre Medos Contemporâneos


Pré-Venda: Cartas Entre Amigos: Sobre Medos Contemporâneos Cod. do Produto: 21509699


Pré-venda: Lançamento previsto para 28/04/2009

De: R$ 34,90
Por: R$ 27,90


  • Descrição:

    Um dos livros mais aguardados do ano, traz reflexões sobre temas contemporâneos de grande interesse. O medo da morte, da solidão, do fracasso, da inveja, do envelhecimento, das paixões, da falta de sentido da vida. No formato de cartas entre dois grandes amigos, tais temas são tratados com sensibilidade pelos jovens autores mais celebrados do momento, duas lideranças incontestáveis das novas gerações: Gabriel Chalita e Padre Fábio de Melo. O livro resgata os valores do humanismo ao mesmo tempo que celebra a amizade de duas personalidades apaixonadas por filosofia, literatura e poesia.

  • Editora: Ediouro
  • Autor: FABIO DE MELO & GABRIEL CHALITA
  • ISBN: 9788500330599
  • Origem: Nacional
  • Ano: 2009
  • Edição: 1
  • Número de páginas: 240
  • Acabamento: Brochura
  • Formato: Médio
Fonte: Submarino

Vem aí: Cartas entre amigos [Novo livro do padre Fábio de Melo e Gabriel Chalita]


Como encarar a perda de uma pessoa querida? Como não se abalar com a solidão, a inveja, a falta de compaixão e a violência? O que fazer com o duro convívio entre razão e paixão? O que fazer com amor, dor, esquecimento e tantos outros sentimentos que insistem em nos perseguir? Perguntas difíceis, não?

Estes são alguns dos questionamentos abordados no livro “Cartas entre amigos – sobre medos contemporâneos”, de Gabriel Chalita e Fábio de Melo, que será lançado em maio pela Ediouro. As histórias contadas trazem à tona angústias, medos, ódio, inveja e solidão, sentimentos que qualquer um de nós carrega na alma e no coração.

No livro, Chalita e o Padre Fábio de Melo lançam mão de um dos meios de comunicação mais antigos da humanidade: a troca de cartas (sim, de cartas!), tão poeticamente presente no passado e hoje esquecida pelas pessoas.

Não perca a chance refletir sobre seus próprios sentimentos.


Fonte: Blog do leitor voraz



Padre, superstar e muito mineiro

Milton Luiz


Mineiro de Formiga, padre Fábio de Mello nunca deu uma entrevista sem mencionar sua origem. "Eu trago a minha terra dentro de mim. Não o faço por obrigação, mas pela satisfação de poder contar que eu não sou mineiro por acaso. A cidade das areias brancas (Formiga) vive nas lembranças", conta.

Pois esse lado mineiro do padre vai estar presente em "Minas de Outros Tons", que ele apresenta no Palácio das Artes na quarta-feira (8). Além da participação especial de Paulinho Pedra Azul, o repertório do show vai deixar de lado canções religiosas e abrir espaço para músicas de Gonzaguinha ("Guerreiro Menino"), Caetano Veloso ("Força Estranha") e Godofredo Guedes ("Cantar").

Segundo Fábio, o repertório foi selecionado a partir de canções de Paulinho Pedra Azul e de compositores que marcaram sua infância e juventude. "Algumas são de minha autoria e falam muito do nosso jeito mineiro de ser", afirma.

Fenômeno de audiência e um dos maiores vendedores de discos do Brasil na atualidade, o padre fala sobre o sucesso: "Estou feliz com os lugares e o reconhecimento que estamos alcançando. O que quero verdadeiramente é fazer bem ao coração das pessoas. Eu sou padre e o que me expõe é a maneira de evangelizar", garante.



Padre Fábio de Melo (*)
Grande Teatro Palácio das Artes (av. Afonso Pena, 1.537, centro, 3236-7400). Às 20h. R$ 120 (platéia I/inteira), R$ 100 (platéia II/inteira) e R$ 80 (platéia superior/inteira).



Fonte: Jornal Pampulha

sábado, 4 de abril de 2009

Padre Fábio de Melo faz show hoje no Hangar
















Sábado, 04/04/2009



O padre-cantor Fábio de Melo, que agrada até quem não é católico, retorna a Belém hoje para um show beneficente. A apresentação faz parte da campanha “A fé que constrói”, em prol das obras da Igreja Santo Antônio de Lisboa.

Toda a renda da bilheteria será revertida para a obra física da construção, mas também para as obras sociais da igreja, que chega a reunir até três mil pessoas por celebração, segundo o pároco Frei Juraci.

Fábio de Melo apresenta, às 20h, no Hangar, o show de seu novo trabalho, o CD “Vida”, que já vendeu mais de 500 mil cópias desde que foi lançado, em setembro do ano passado.

Com onze CDs lançados e o primeiro DVD a caminho, o mineiro Fábio de Melo, 37, diz que nunca estudou música: “É só intuição”, afirma ele, que costuma causar frisson entre as fiéis. “O celibato está a meu favor. Eu não o vejo como uma restrição, eu o vejo como uma possibilidade”, disse ele, em entrevista recente.

O show começa às 20h. Venda de mesas, cadeiras e ingressos individuais nas lojas Extrafarma, Big Ben e no Hangar. Informações: 3344-0100. (Diário do Pará)

Fonte: Diário do Pará